“O corpo diz o que as palavras não podem dizer". Martha Graham






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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Ser Conduzida na Dança






Esses dias eu vi esse post no Facebook que achei muito engraçado e até compartilhei na fan page que administro Dança e Dança. Mas o fato é que os dizeres ali colocados  me levaram a refletir por que é tão difícil para a dama se deixar conduzir?

A primeira reflexão é se essa premissa é verdadeira, ou seja, tal como descrito no post, o entendimento é o de que o cavalheiro quer conduzir a dama e é ela quem não permite ser conduzida. Então eu pergunto:será que essa dificuldade é maior ou diferente daquela que o cavalheiro tem de exercitar a condução para dama? Em outras palavras, eu poderia desenhar um post em que diria "Cavalheiro conduza a sua dama por favor".

Nessa questão de condução está subjacente a ideia equivocada de que conduzir é comandar / mandar. Como algo impositivo, autoritário nos reportando ao século passado, ao manda que eu obedeço, a autoridade do homem e subserviência da mulher, pois mulheres e homens ao longo de boa parte da história da humanidade desempenharam papéis sociais muito diferentes.

Maristela Zamoner no seu livro Dança de Salão, muito bem colocou que os termos Cavalheiro e Dama são os mais apropriados para a Dança de Salão porque se reportam ao tempo em que esta Arte surgiu, mas definem papéis que não correspondem aos de homem e mulher dos dias atuais. E mais para frente completa: homens não conduzem mulheres, mas cavalheiros continuam conduzindo damas.

Metaforicamente a beleza da dança a dois está na sintonia/harmonia que existe quando os corpos "dialogam" ao som da música. Contudo, esse diálogo não acontece de imediato. E não acontece por vários fatores e um deles é o do cavalheiro ainda não saber conduzir e a dama não saber ser conduzida. No inicio, a preocupação de ambos, é unicamente o de executar a figura. O casal, nesse momento inaugural, só estão juntos pelo abraço, cada um executa a figura proposta pelo professor conforme seu próprio entendimento sem se preocupar com o outro. Vejo isso como um processo natural. Com o amadurecimento, cavalheiros e damas entendem que a condução é parte integrante e fundamental de qualquer figura executada.

Aprender a dançar é como aprender a andar. Antes de andarmos com perfeição e andar com perfeição aqui significa poder brincar com as possibilidades que o andar nos permite (saltitar, correr, andar para frente, para trás, etc), engatinhamos, levantamos e andamos apoiados, damos os primeiros e curtos passinhos sozinhos e assim vamos até andarmos livre e belamente. Na dança acontece o mesmo: homens e mulheres vão passando por estágios  de aprendizagem e um desses estágios é o de entender o que é conduzir e ser conduzido.

Sob a ótica feminina da mulher do século XXI, eu entendo que o se deixar conduzir esbarra nas nossas próprias características da mulher atual. Isto porque ocorreram mudanças fundamentais no papel social da mulher. A mulher de hoje tem uma maior autonomia, liberdade de expressão, bem como emancipou seu corpo, suas ideias e posicionamentos outrora sufocados. Em outras palavras, a mulher do século XXI deixou de ser coadjuvante para assumir um lugar diferente na sociedade, com novas liberdades, possibilidades e responsabilidades, dando voz ativa a seu senso crítico. Essas características gerais influenciam diretamente no nosso papel de dama na dança. Portanto, cuidado mulheres: não deixe que o "ser mulher" atrapalhe o "ser dama" na dança a dois.   
 


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